A crescente popularidade dos carros elétricos está transformando a realidade dos condomínios residenciais. À medida que mais moradores adotam essa tecnologia, aumenta também a demanda por infraestrutura de recarga nas garagens. No entanto, esse avanço traz novos desafios: capacidade elétrica, segurança contra incêndios, atualização do seguro e atendimento às normas técnicas, especialmente as do Corpo de Bombeiros.
Capacidade elétrica do condomínio: está preparado?
A instalação de carregadores requer uma avaliação detalhada da infraestrutura elétrica do prédio. Muitos edifícios, especialmente os mais antigos, não foram projetados para suportar a alta demanda de energia que esses equipamentos exigem.
Sem o reforço adequado no sistema elétrico — como instalação de novos quadros, medidores ou transformadores — o condomínio corre riscos como sobrecargas, curtos-circuitos, e até incêndios. Portanto, é essencial contratar uma empresa especializada em engenharia elétrica e gestão de energia para dimensionar corretamente o sistema.
Normas do Corpo de Bombeiros: uma nova realidade de risco e segurança
🚨 Não existe tecnologia capaz de apagar uma bateria de carro elétrico
A bateria dos carros elétricos, geralmente feita de íons de lítio, pode entrar em um processo chamado fuga térmica, que gera calor extremo, gases tóxicos e, muitas vezes, reacendimentos espontâneos, mesmo após o incêndio parecer controlado. Não existe tecnologia no mundo capaz de apagar completamente esse tipo de incêndio com métodos tradicionais. Por isso, o Corpo de Bombeiros tem buscado novas medidas preventivas.
📋 Norma em consulta pública: Portaria CCB-001/800/2024
Em abril de 2024, o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo colocou em consulta pública uma norma inédita, com exigências específicas para a instalação de carregadores de carros elétricos em edifícios, diante da complexidade e dos riscos associados. Os principais pontos são:
- Detecção de incêndio pontual em cada vaga com carregador.
- Porta corta-fogo com 5 metros de comprimento isolando a vaga — ou parede de alvenaria de 1,6 m de altura por 5 m de comprimento, com 90 minutos de resistência ao fogo.
- Ventilação mecânica obrigatória para garagens subterrâneas, com trocas de ar cinco vezes por hora, ou ventilação natural equivalente.
- Instalação obrigatória de dois sprinklers rápidos por vaga, acima do ponto de recarga.
- Ponto de desligamento manual da energia do carregador, instalado a uma distância entre 20 e 40 metros.
- Dois extintores de incêndio tipo C por vaga, para riscos elétricos, com distância máxima de 15 m entre eles.
- Uso obrigatório de carregadores do tipo wallbox, com projeto elétrico assinado por engenheiro eletricista e em conformidade com a norma NBR 17019.
Essas exigências refletem a preocupação crescente com a proteção de vidas e do patrimônio coletivo, e a tendência é que outros estados adotem normas semelhantes.
Investimento do condomínio: mais do que apenas instalação
Seja em modelo coletivo ou individual, a instalação de carregadores representa um investimento significativo. Além do custo do equipamento, o condomínio deve considerar:
- Adequações estruturais e elétricas;
- Obrigações legais e normativas;
- Possíveis atualizações do seguro e do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).
Todo o processo deve ser aprovado em assembleia e registrado em ata, definindo quem será responsável por custos, uso, manutenção e eventual rateio de energia elétrica.
Risco de incêndio: por que se preocupar?
Carregadores mal instalados ou operados de forma inadequada podem gerar surtos elétricos e superaquecimento, elevando o risco de incêndios, especialmente em ambientes fechados como garagens subterrâneas.
Com as novas normas em consulta, a prevenção passa a incluir isolamento físico das vagas, ventilação adequada e sistemas automáticos de combate, medidas fundamentais para garantir a segurança em caso de falha.
Cobertura do seguro: está adequada ao novo cenário?
Nem todos os seguros condominiais cobrem automaticamente sinistros causados por equipamentos de recarga. O síndico deve:
- Verificar se a apólice atual inclui danos elétricos, incêndios e responsabilidade civil relacionados a carregadores;
- Solicitar à seguradora a inclusão de cláusulas específicas para esse tipo de equipamento;
- Informar à corretora de seguros sobre as mudanças estruturais realizadas no prédio;
- Manter em arquivo todos os projetos e laudos técnicos para comprovar a regularidade da instalação.
Importante: caso o condomínio não siga as exigências da norma, mesmo que ainda esteja em consulta, a seguradora pode alegar negligência e recusar o pagamento da indenização.
Outros cuidados indispensáveis
- Atualizar o regimento interno com regras sobre o uso e a instalação dos carregadores;
- Treinar a equipe para agir em emergências elétricas;
- Utilizar medidores individuais para evitar conflitos sobre o consumo.
Conclusão e recomendações finais
A instalação de carregadores de carros elétricos em condomínios é uma tendência irreversível. No entanto, ela exige planejamento técnico, responsabilidade legal e atenção à segurança. O seguro condominial deve acompanhar essa evolução, cobrindo riscos novos que impactam diretamente o patrimônio e a vida dos moradores.
Mais do que seguir a lei, adaptar-se às novas normas do Corpo de Bombeiros, adotar soluções seguras e manter um seguro atualizado é uma forma de proteger o futuro — com tecnologia, consciência e responsabilidade.
Além disso, é fundamental consultar o corretor de seguros antes de realizar qualquer investimento em infraestrutura de recarga. Só um profissional qualificado poderá analisar a apólice vigente, orientar sobre exclusões, coberturas adicionais necessárias e garantir que o condomínio esteja protegido em caso de sinistro.
Em caso de dúvidas sobre a cobertura ideal, cláusulas específicas e proteção adequada para seu condomínio, consulte um corretor especializado como a Domo Seguros. A análise técnica de um profissional é essencial para garantir segurança e tranquilidade ao síndico e aos moradores.
por Paulo Bicalho – Domo Seguros